Abra os Ouvidos: Deus Fala de Várias Maneiras

Por: Pastor José Flávio Macieira — 2025

Será que Deus está em silêncio, ou será que nós não estamos sintonizados na frequência certa para ouvir?

"Mas Deus fala, ora de um modo, ora de outro, mesmo que o homem não o perceba." (Jó 33:14 NVI)

Após a longa e angustiada defesa de Jó e o silêncio frustrado de seus três amigos, uma nova voz emerge. Eliú, o jovem observador, finalmente toma a palavra no capítulo 33, dirigindo-se diretamente a Jó. Ele pede uma audiência atenta (v. 1), assegura sua sinceridade e que fala como um igual diante de Deus (vv. 3-7). Seu objetivo principal neste primeiro discurso é confrontar uma das queixas mais dolorosas de Jó: a sensação de que Deus o trata com hostilidade e, acima de tudo, permanece em silêncio, recusando-se a responder (vv. 9-13).

Eliú discorda veementemente. Ele argumenta que o problema não está na falta de comunicação de Deus, mas talvez na nossa dificuldade em percebê-la. Sua afirmação central é ousada e direta: "Nisso você [Jó] não tem razão [...] Deus é maior do que o homem. [...] Mas Deus fala, ora de um modo, ora de outro, mesmo que o homem não o perceba" (vv. 12-14).

Quantas vezes nos sentimos como Jó? Clamamos, buscamos respostas em meio a uma crise, uma dúvida ou uma dor, e tudo o que parece haver é silêncio. É fácil concluir que Deus se esqueceu de nós ou não se importa. Mas, Eliú nos desafia a considerar outra possibilidade.

Pense em tentar sintonizar um rádio antigo. Às vezes, ouvimos apenas estática, não porque não haja transmissões no ar, mas porque não encontramos a frequência certa, ou a antena não está bem posicionada. Será que, espiritualmente, pode acontecer algo parecido? Deus pode estar falando, mas talvez estejamos esperando Sua voz apenas da maneira usual (uma resposta clara em oração, uma passagem bíblica específica) e não estamos atentos às outras "frequências" que Ele usa.

Eliú, então, passa a descrever algumas dessas maneiras alternativas pelas quais Deus busca se comunicar conosco (vv. 15-30). Ele menciona sonhos e visões noturnas (vv. 15-18), usados por Deus para nos alertar, nos impedir de praticar o mal e preservar nossa vida. Deus pode usar nosso subconsciente para plantar avisos ou direcionamentos.

De forma mais controversa para nós hoje, Eliú sugere que Deus também fala através do sofrimento e da dor física (vv. 19-22). Aqui, ele oferece uma perspectiva diferente da dos amigos de Jó. Ele não vê a dor necessariamente como punição por um pecado específico, mas como um instrumento que Deus pode usar para nos "despertar", para nos fazer parar, examinar nossos caminhos e nos voltar para Ele. É uma forma de disciplina que visa à correção e ao nosso bem.

Importante: Devemos ter cuidado para não generalizar essa ideia (nem toda doença ou sofrimento é disciplina divina direta!), mas também não podemos descartar a possibilidade de que Deus, em Seu amor, use circunstâncias difíceis para chamar nossa atenção e nos ensinar algo crucial.

Eliú ainda descreve um cenário de intervenção e restauração (vv. 23-30), onde, talvez através de um "anjo mediador" (um vislumbre da obra de Cristo?) ou do arrependimento sincero, a pessoa é resgatada da "cova", sua saúde é restaurada e sua comunhão com Deus é refeita com alegria. O objetivo final da comunicação divina, mesmo quando vem por meios difíceis, é redentor.

O que podemos aprender com a perspectiva de Eliú? Precisamos ampliar nossa percepção e pedir a Deus "ouvidos para ouvir" Sua voz em todas as circunstâncias. A leitura da Palavra e a oração são fundamentais, mas Ele também pode falar através de um conselho sábio, de uma intuição do Espírito Santo, de um sonho, ou até mesmo nos desafios que enfrentamos.

Precisamos também reinterpretar nossas dificuldades. Em vez de apenas perguntar "Por que eu?", podemos também perguntar "Senhor, há algo que queres me dizer através disto?". Isso não anula a dor, mas abre espaço para aprendizado e crescimento, confiando no propósito redentor de Deus. Como diz Hebreus:

"Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho..." (Hebreus 1:1-2a NVI)   

Deus é um Deus que se comunica! Sua maior Palavra é Jesus, mas Ele continua falando de várias maneiras.

Desafio: Nesta semana, pratique ter "ouvidos atentos". Diante de uma situação inesperada, uma dificuldade, ou mesmo um sonho que chamou sua atenção, reserve um momento para perguntar: "Deus, há uma mensagem para mim aqui?". Peça discernimento ao Espírito Santo para compreender o que Ele pode estar comunicando.

Oração: Pai comunicativo, perdoa-nos pelas vezes em que estivemos tão focados em nossos problemas ou em nossas expectativas que não percebemos Tua voz falando de outras maneiras. Abre nossos ouvidos espirituais, Senhor! Dá-nos sensibilidade para Te ouvir na Tua Palavra, no Teu Espírito, nas circunstâncias e nas pessoas ao nosso redor. Concede-nos discernimento para entender Tua mensagem e um coração disposto a responder com fé e obediência. Em nome de Jesus, amém.

Hora de Refletir:

1. Você já teve uma experiência em que percebeu Deus falando com você de uma maneira inesperada (sonho, circunstância, etc.)? Como foi isso?

2. Qual a sua maior dificuldade em discernir a voz de Deus em meio ao "ruído" da vida ou ao "silêncio" aparente?

3. Como a ideia de que Deus pode usar até mesmo dificuldades para se comunicar (com propósito redentor) impacta sua forma de encarar os desafios?

Deus não está em silêncio; talvez precisemos apenas ajustar nossa sintonia para ouvir Suas muitas vozes.

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